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Cetral de Energia das Ondas do Pico


Em Lisboa no fim do mês passado, deparo-me com esta noticia no “Correio da Manhã” de 28 desse mês: “Tecnologia retira energia das ondas – Uma inovadora tecnologia de produção de energia a partir das ondas do mar é hoje apresentada em Óbidos, vila onde a empresa Sea for Life desenvolve este projecto. Denominado WEGA – Wave Energy Gravitational Absorver – o projecto é considerado inovador pela capacidade de produção de energia sem existir qualquer movimento mecânico na água, revelou José Rodrigues, responsável pela Sea for Life. O WEGA é um dispositivo composto por um corpo suspenso articulado, semi-submerso, estimando-se que possa produzir entre 100 e 150 kilowatts de energia”.

Central de energia das ondas do Pico

Quanto à notícia e tema em si nada a objectar, já que quantas mais experiências se fizerem no campo do aproveitamento de energias renováveis, tanto melhor, só que fiquei incomodado, tanto quanto poderia perpassar a ideia, de que era a primeira vez que tal iria acontecer no nosso país, esquecendo-se essa outra experiência que decorre no sítio do Cachorro, na nossa ilha.

Interior da Central do Pico - conduta de ar (em azul) onde está instalada
a turbina e o gerador eléctrico

Pesquisando sobre este tema encontrei um excelente trabalho de Ana Brito e Melo, de Março deste ano intitulado: Que futuro para a Central de Ondas do Pico? E passo a citar algumas notas: A Central de Ondas do Cachorro, na ilha do Pico, foi construída em 1999 como um projecto-piloto de energia das ondas, o primeiro projecto financiado pela Comissão Europeia nesta área. Este projecto foi liderado pelo Instituto Superior Técnico (IST), onde há vários anos existe uma equipa no departamento de Engenharia Mecânica que se dedica à investigação científica no domínio da energia das ondas como um recurso para produção de energia eléctrica. Neste projecto participaram mais duas universidades estrangeiras – a Queen’s University of Belfast (Reino Unido) e a University College Cork (Irlanda) - além do INETI (actual LNEG), a Profabril, a EFACEC, a EDP e a EDA, sendo estas duas últimas empresas os donos da obra e também co-financiadores do projecto, tal como o Estado Português através do programa Energia. Os estudos realizados assentaram num trabalho intensivo de testes laboratoriais no LNEC, e estudos hidrodinâmicos e de dimensionamento da turbina conduzidos principalmente pelo IST. Existem várias formas de aproveitar a energia que as ondas transportam e por esse motivo há uma lista numerosa de tecnologias com princípios de funcionamento distintos, que têm sido apresentados e alguns deles testados em várias partes do mundo (Europa, América do Norte, América do Sul, Nova Zelândia, Austrália). A tecnologia da Central do Pico, conhecida como ‘coluna de água oscilante (CAO)’ tem um princípio de funcionamento simples, com poucos componentes: basicamente consiste numa estrutura que forma um compartimento oco (câmara pneumática) acima da superfície livre da água, de tal forma que as ondas entram e saem da câmara e a sua oscilação movimenta um fluxo de ar através de uma turbina instalada no topo da câmara. O equipamento chave desta tecnologia é a turbina concebida especificamente para esta aplicação e que portanto não é um equipamento standard. Esta turbina está acoplada a um gerador eléctrico. A turbina instalada no Pico, a turbina Wells, foi construída por uma empresa britânica sob projecto aerodinâmico do IST e o gerador e componentes eléctricos fornecidos pela Efacec.

Apesar de numerosas alternativas que têm surgido nesta ultima década, a CAO continua a ser uma aposta de algumas equipas e instituições de investigação de renome internacional, como recentemente aconteceu na Coreia do Sul onde se iniciou em 2009 o projecto de uma central CAO. São estes alguns indicadores de que a tecnologia CAO tem forte potencial hoje, como no passado. Além da sua instalação na costa, a tecnologia CAO pode ser aplicada em estruturas flutuantes instaladas ao largo, ou integrada em estruturas de protecção costeira, em quebramares. (…) Voltando à central do Pico, refere o trabalho que “Quando a obra estava concluída e todo o equipamento instalado e se iniciou o seu funcionamento, a equipa deparou-se com inúmeros problemas, nomeadamente vibrações elevadas, em vários componentes mecânicos, que punham em risco a própria central. (…) Só em 2004, no âmbito do programa nacional DemTec, da Agência de Inovação, S.A. (Adi), o Centro de Energia das Ondas (acabado de ser criado em 2003) submeteu uma proposta para recuperar e pôr em funcionamento a central. A proposta foi aceite e o projecto “Recuperação e Monitorização da Central CAO do Pico, Açores” (2004-2007) liderado pelo Centro de Energia das Ondas com a participação da EDP, EDA, EFACEC, Kymaner, Consulmar e IST, arrancou com uma nova dinâmica. Foram várias as dificuldades encontradas. Muitos dos materiais mecânicos e eléctricos auxiliares apresentavam problemas de corrosão. Cometeram-se alguns erros no projecto da Central do Pico, alguns técnicos outros de perspectiva (ou ambição). Um erro de perspectiva foi o facto de não se ter previsto que, após conclusão da construção e início de operação da central, em 99, seria necessário uma reserva de fundos significativa não só para resolução e correcção de eventuais problemas, mas também para um programa alargado de teste e manutenção periódica da central, exposta a um ambiente agressivo (altamente salino). Um erro de ambição, e que resultou em expectativas muito elevadas, foi o de se ter pensado que a central do Pico, apesar de ser um protótipo, seria um centro produtor que iria dar uma contribuição significativa para o abastecimento da ilha do Pico, então muito deficitária em termos de abastecimento de energia. A central em 2007 funcionou 50 horas, em 2008 funcionou 100 horas e em 2009 funcionou 265 horas. Desde o início deste ano, até ao corrente mês de Março, a central já funcionou 92 horas e prevê-se que ultrapasse largamente as 200. Ou seja, tem sido notório o aumento substancial das horas de funcionamento e de energia eléctrica produzida, são notórias as melhorias, apesar de não ser perceptível ao público. A central ainda não pode ser operada com controlo remoto, à distância, ou seja é necessário a permanência de um técnico no local, por questões de segurança e fiabilidade do equipamento, e esta é a próxima meta a atingir em 2010, ou seja o funcionamento autónomo da Central. Faz sentido continuar a apostar na central do Pico? Que perspectivas?
É nossa convicção de que se deve reforçar a aposta na Central do Pico! Por diversos factores:

1. Promove-la significa antes de mais promover um ambiente favorável à Inovação tecnológica na área das renováveis.
2. A Central do Pico é mundialmente um projecto de referência: uma central ligada à rede eléctrica e que debita energia para uma rede local – ainda são poucos os projectos de energia das ondas, a nível mundial, que alcançaram esta meta.
3. Potencia uma Transferência de Tecnologia – deslocou-se recentemente à Central do Pico uma delegação coreana que iniciou a construção de uma central semelhante na Coreia do Sul, com base na partilha de informação sobre a central do Pico.
4. Proporciona um fluxo e um intercâmbio de conhecimentos em energia das ondas e nesse sentido, durante os dois últimos anos o Centro de Energia das Ondas organizou, na Central do Pico, dois cursos para jovens investigadores. Participaram em cada curso cerca de 20 jovens de diversas nacionalidades que monitorizaram a central, recolheram dados e aprenderam a analisar o seu desempenho. Estão a planear-se novos cursos para o futuro próximo.
5. Pode ser um marco no roteiro turístico da ilha do Pico e contribuir para o enriquecimento de conhecimentos sobre uma fonte de energia renovável – durante a época de férias a central é visitada com frequência por turistas que se interessam e procuram perceber o seu funcionamento.
6. Está dimensionada para poder ser utilizada como uma infraestrutura de teste de vários equipamentos. Toda a experiência adquirida com a operacionalidade da Central do Pico pode ser aplicada em estruturas flutuantes do tipo CAO, numa aplicação em larga escala.

(…) Assim, é de esperar que a Central do Pico contribua para dinamizar actividades de investigação e desenvolvimento no Pico, colocando-a no mapa da inovação europeia, para além de dinamizar actividades de turismo científico e fornecer energia eléctrica renovável no Pico. A Central do Pico já produziu mais energia do que qualquer outra central de ondas na Europa, ou talvez, no mundo. A desistência da Central do Pico, nesta fase, significa deixar para trás as capacidades e avanços feitos e perder a oportunidade de ter um projecto bandeira de aproveitamento da produção de energias renováveis marítimas, nos Açores. Basta para tal apostar num programa contínuo de manutenção da central, melhorar significativamente a sua envolvente exterior, e fomentar ideias para a disseminação internacional do projecto. A Central do Pico pode ser mais um dos alicerces do Programa do actual Governo dos Açores no âmbito do qual a necessidade de fomentar a investigação e o desenvolvimento das energias renováveis é reconhecida. Pode igualmente contribuir para que os Açores sejam uma referência na utilização de energias renováveis marítimas.”

Aqui ficam assim registadas algumas passagens que recolhi do excelente trabalho elaborado por Ana Brito e Melo (a) a quem aqui presto a minha modesta homenagem, pela partilha de conhecimento que proporcionou ao colocá-lo à disposição de todos na Internet e, como ela deixa transparecer, nunca será demais valorizar o que adquirimos e que devemos potenciar. Bem-haja.

(a) Apresentado no Workshop de 17-18 Maio 2010, no Auditório da Ordem dos Engenheiros, Lisboa.

 

 

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